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CONTRIBUIÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL EM OFICINAS GERAÇÃO DE RENDA E ECONOMIA SOLIDÁRIA

Autor: Juliana Vieira, Terapeuta Ocupacional na Casa de Saúde São João de Deus

No campo da saúde mental, a utilização do trabalho como forma de tratamento surgiu em 1773 com o Tratamento Moral proposto por Phillipe Pinel, considerado o pai da psiquiatria na França.

Nele não se objetivava o cuidado ou o aspecto produtivo, muito pelo contrário, se objetivava comportamentos condicionados através da realização de trabalhos alienantes e sem sentido. Este foi o único recurso utilizado como tratamento da “loucura” até meados de 1950.

A partir do fortalecimento do movimento de desinstitucionalização, começou-se a pensar em outras formas de tratamento, que fossem mais humanas e eficientes. No Brasil, as instituições asilares que utilizavam o Tratamento Moral, passaram a ter questionadas suas formas de intervenção. Com as desconstruções do modelo manicomial tem se aprimorado, e as intervenções terapêuticas são pensadas cada vez mais na singularidade do indivíduo, na construção da identidade a partir de suas produções através do trabalho.

A utilização do trabalho como recurso terapêutico vem sendo cada vez mais discutida, pois está fundamentada nos princípios da reabilitação psicossocial, sendo um potente instrumento de emancipação e conquista de autonomia para
os sujeitos, além de ampliar as redes sociais e o poder de contratualidade.

Os profissionais passam a questionar as práticas assistenciais e o papel ambíguo que o trabalho vinha ocupando dentro das instituições, oscilando entre a função terapêutica e a função de controle social, apenas condicionando comportamentos.

A partir de 1980, os Terapeutas Ocupacionais buscaram aprimorar suas atuações dentro destes espaços e legitimar cada vez mais o processo de reabilitação psicossocial por meio da realização do trabalho, desenvolvendo potencialidades e habilidades, produzindo indivíduos muito mais autônomos.

Somente após 1990 surgiram as primeiras iniciativas de geração de trabalho e renda no Brasil para usuários dos serviços de saúde mental. Este número vem aumentando a cada dia.

A PRÁTICA DA TERAPIA OCUPACIONAL EM INICIATIVAS DE GERAÇÃO DE TRABALHO E RENDA

O Terapeuta Ocupacional é o profissional que trabalha com o fazer, com a ação humana. Ele compreende o indivíduo saudável como um ser ativo e produtivo, em harmonia com a sua singularidade e com um todo, devendo contribuir para que o cuidado seja pensado de forma global e não fragmentada. E esse indivíduo seja pensado não apenas nas suas produções concretas, mas também nas relações que influem diretamente na sua saúde e qualidade de vida.

Quando pensamos no sujeito de forma ampla, respeitando todos os aspectos da singularidade precisamos avaliar qual a importância do trabalho na vida desta pessoa e qual papel social este trabalho vai ocupar, para então utilizá-lo da melhor maneira possível.

O profissional trabalha desenvolvendo e estimulando habilidades e potencialidades para, através disso, consolidar sua atuação e inserção nos serviços de geração de renda, com intervenções mais eficientes, priorizando o cuidado com foco na promoção de saúde, cidadania e participação social, por meio do fazer significativo.

Alguns aspectos que podem ser desenvolvidos e estimulados pelo Terapeuta Ocupacional durante o processo de trabalho: organização, planejamento, sequência, orientação no tempo e espaço, entre outros.

ECONOMIA SOLIDÁRIA PARA A ORGANIZAÇÃO DAS OFICINAS DE GERAÇÃO DE TRABALHO E RENDA

Economia solidária e saúde mental estão diretamente ligadas pelos princípios da reabilitação psicossocial através da geração de renda.

A economia solidária é uma maneira alternativa de geração de trabalho e renda que integra quem produz, vende, compra e quem troca, de forma democrática, pois tem sua característica na autogestão, potencializando aplicação das trocas sociais e aumento do poder de contratualidade e autonomia.

A economia solidária constitui-se como ferramenta fundamental de inserção dos usuários dos serviços de saúde mental no mercado de trabalho. Sendo a forma mais humana e democrática de organizar as ofcinas de geração de renda, permitindo desenvolver nos trabalhadores aspectos como iniciativa e empoderamento.

Diante disso, podemos observar que o trabalho tem um caráter terapêutico muito eficiente quando utilizado de forma correta, além de ocupar diferentes papeis e graus de importância na vida de cada sujeito, que são estabelecidos a partir de suas vivencias e contexto social. Fatores como satisfação e reconhecimento são fundamentais para fazer com que ele se sinta valorizado. O viés terapêutico e o contexto de tratamento acabam tornando-se secundários

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